TEXTO DE TOM JOBIM
Sobre a música
Apesar da música ter sido feita com o espírito de servir ao texto, lembremo-nos de que Orfeu era essencialmente um músico, e que em certos momentos a sua criação (como no caso dos sambas) deve ter, mesmo servindo ao texto, um sentido próprio, ser "uma coisa em si". Foi com esse espírito que o poeta e eu fizemos os sambas que, na peça, comentam determinadas situações.
Quanto aos temas que sublinham a ação, procuramos ser fiéis à idéia que gerou a própria peça e que está toda contida no seu título: Orfeu o músico grego; da Conceição - o músico carioca de morro. Os modos gregos, as cadências plagais, a nossa herança européia, a nossa maneira brasileira foram usados livremente, usados como na própria música que temos, herdeira de diversas culturas e sem quaisquer pretensões de "pureza".
O uso livre de "harmonias européias", de "instrumentos europeus", que por sua vez tiveram origem em outras culturas - tudo isso vem da crença que temos de que as culturas se interpenetram e se fundem.